“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la” (Cecília Meireles). A estação que era das mais festejadas em Salvador, com direito até mesmo a jogos estudantis, até meados da década de 1970, chega entre esta terça e quarta, mal percebida porque vem se instalado aos poucos. Um dos lugares onde ela vai ser sentida fica escondido em meio ao campus de Ondina, na Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A área foi isolada há cerca de 20 anos, por determinação da reitoria da universidade, para que nela pudessem renascer os restos de mata atlântica que teimaram em resistir à ocupação humana na região.
“Nós não podemos falar em mata, mas sim em “indivíduos” isolados. São pés de murici, pau pombo, aroeira, cajazeira, jarauba, jatauba, ipês roxo, amarelo e branco, oiti-mirim e jenipapo, entre outros, que se constituem nos exemplares de uma mata secundária”, explica o agrônomo Pedro Rui, coordenador de Segurança e Meio Ambiente da Ufba (Cosema).
Pedro Rui é responsável pela comissão que Programa de Recuperação e Manejo Ambiental da Ufba, lançado na aula inaugural da instituição, que contou com a presença da senadora Marina Silva (PV). O programa interdisciplinar envolve o Instituto de Biologia, de Farmácia e de Geociências, além da Faculdade Politécnica, e teve início com a realização de workshops para reunir os projetos já existentes na universidade, informou o agrônomo.
O coordenador do Cosema explicou que o processo escolhido para a área foi o de recomposição ambiental, uma forma de fazer ressurgir vegetação em ambientes degradados. No final da década de 1980, a reitoria da Ufba decidiu que uma área onde havia restos do bioma da mata atlântica (encostas e área entre as escolas de Dança e de Letras) deveria permanecer isolada, sem construção ou agressão, e com a intervenção humana se limitando a deposição de material orgânico, sem plantio sistematizado.
Nesta segunda fase, prosseguiu Pedro Rui, será feito um trabalho de enriquecimento florístico e de coleta seletiva. Parte da mata é formada pelas chamadas plantas exóticas, a maioria ornamentais destinadas a jardins, que ou foram plantadas por curiosos ou cujas sementes foram trazidas junto com o material orgânico depositado. São sombreros mexicanos, ficus, amendoeiras, capim colonial e branqueara, acácias amarelas e palmeiras imperiais, entre outras, que vão ajudar no enriquecimento do bioma.
"O primeiro plano diretor da Ufba visava mais a construção de imóveis, mas o atual plano prevê a preservação de 40% da área de 500 mil metros quadrados ainda não ocupados nos campus da Ufba. Pretendemos que esta reserva seja permanente e que, em 20 ou 30 anos, a vegetação já contenha exemplares de primeira geração como jacarandás, perobas, vinhático, entre outras conhecidas popularmente como madeira de lei”, exemplifica o agrônomo.
Evolução - No futuro, acredita Pedro Rui, a reserva será utilizada basicamente com fins didáticos, atividade já iniciada com trabalho de levantamento de espécies desenvolvido pelo professor Ronan Cayres; como área de produção de sementes, principalmente de exemplares em extinção; como contribuinte na melhoria climática na região; e como área de contraponto visual em meio aos grandes edifícios.
Marjorie Moura, do A TARDE
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